irmãs.
a morte e a liberdade. pensa nelas com igual afecto ou desencanto.
ambas, se entram em nós, entram de vez. ambas só vêm quando têm que vir, ou bem à força da nossa vontade irredutível.
estava exausta. os últimos anos de doença tinham esgotado toda a energia que muitas vezes a distinguira da maioria das mulheres.
lutara para ser livre.
primeiro para libertar-se do ventre da mãe e daquele cordão a querer prendê-la ainda. depois para conseguir na sociedade o seu espaço sem vergonha no olhar ou cabeça caída.
desde sempre, então. era verdade.
mas agora era altura de sair de cena.
tinha um mundo inteiro de razões aceitáveis contra ela.
- eu não aguento mais!
seria um grito se tivesse ainda força para o dar. carregar desajeitadamente o botão da campaínha está bem longe de se parecer com gritar.
- é cobardia, dizem. e que sabem? que sabem deste estado já meio vegetal onde por mais amigo, já ninguém nos pode acompanhar?
Deus. é verdade, Deus! então e o livre arbitrio, é só uma palavra a não usar?
tinha pedido que a não acordassem antes que chamasse. queria descansar.
olhou o espelho na mesinha ao lado e sorriu a si própria.
- adeus vida, foi bom por cá andar.
ambas, se entram em nós, entram de vez. ambas só vêm quando têm que vir, ou bem à força da nossa vontade irredutível.
estava exausta. os últimos anos de doença tinham esgotado toda a energia que muitas vezes a distinguira da maioria das mulheres.
lutara para ser livre.
primeiro para libertar-se do ventre da mãe e daquele cordão a querer prendê-la ainda. depois para conseguir na sociedade o seu espaço sem vergonha no olhar ou cabeça caída.
desde sempre, então. era verdade.
mas agora era altura de sair de cena.
tinha um mundo inteiro de razões aceitáveis contra ela.
- eu não aguento mais!
seria um grito se tivesse ainda força para o dar. carregar desajeitadamente o botão da campaínha está bem longe de se parecer com gritar.
- é cobardia, dizem. e que sabem? que sabem deste estado já meio vegetal onde por mais amigo, já ninguém nos pode acompanhar?
Deus. é verdade, Deus! então e o livre arbitrio, é só uma palavra a não usar?
tinha pedido que a não acordassem antes que chamasse. queria descansar.
olhou o espelho na mesinha ao lado e sorriu a si própria.
- adeus vida, foi bom por cá andar.
Woman With Bird - by Anastas Kamburov
quando entraram no quarto para a medicação à hora certa, ela tinha unido em si duas irmãs, a liberdade e a morte.
tão bela de se ver. mais livre agora.
7 palpites:
Trouxeste aqui um tema problemático. Para uma pessoa fazer isso, precisa de coragem? Sei que para o fazer já está num estado de desespero tal, que nada a agarra aqui. Não consegue pensar, vê tudo negro, está deprimida, logo, não pensa, age por impulso. Gostei deste texto e já me alonguei muito:) beijos
é ve~las sempre... de uma forma despreocupada, como quem pensa em "si"...
õnde no meio fica a auto estima
:)
E ser nossa a escolha é, enfim, o derradeiro gesto de liberdade, para mais quando a dor ou o não-ser tornam a vida um beco fechado, uma prisão...
Não é tema leve, de voo de águia, mas gostei de vir até cá.
Um poema que me lembrou uma frase, que costumo ouvir... "quero morrer com a dignidade, com que vivi..."
Mas, não é fácil aceitar... quem vai está liberto. Mas quem fica...
Abraço
:)
Não desdigo o que dizes, só o faço – digo e sinto -, d’outra forma, talvez. Não creio na morte, simplesmente. Creio na multiplicidade da vida... e nos liames entre todos nós. De todo modo, o tema é complexo, sem dúvida.
Um abraço fraterno.
Enviar um comentário
<< Home