domingo, dezembro 17, 2006

Carlos Paredes, um Amigo aprendido na arte

Pierre Almeida

fim de um blog que não chegou a ser.

ainda assim dedicado ao Amigo dono da beleza desta música.

nunca o esqueçam.

Carlos Paredes, não pode ser esquecido
até por não ter quem o possa igualar.




madalena pestana

segunda-feira, agosto 22, 2005

raiz nas pedras

Bryen Remer

terça-feira, agosto 16, 2005

Bill Brandt

esperando sem esperar ficou ali
fumando o cigarro do tempo dessa espera
o vento o sal do mar arredondaram o corpo
que era aresta até então

adoçou os contornos e esperou
esperou o nada sem perder de vista
que algo pode surgir da imensidão
que é o vento que se alastra e cerca e ruge

"no ar. no ar. no ar. morrer no ar!"

mas ficou uma pedra, em sua esteira.
mais uma rocha firme a deslumbrar
quem por ela passe e até sentar-se queira.

"ah que mãos de moldar tens vento do sul!"

à sua volta árvores e o de sempre, azul.

hera sobre mulher-pedra

concha


introduction_wave

segunda-feira, agosto 15, 2005

choro e bruma


sobre o seu pó, à beira de água, regada ainda por algum choro e bruma muita bruma, poisou uma semente e ali ficou.

- deitem o pó ao vento quando chegar a hora.

os amigos fizeram-lhe a vontade. e a semente gostou, acomodou-se na terra macia como espuma, colchão de vida que ela num outro já, sorriso, preparou.

e de pequena planta rebento indefinido, em árvore, crescendo, se tornou.

- nada se perde, nada!

e a quem passar é permitido, se for gente de olhar com atenção, num dia de magia e bruma todo feito, vê-la falar com as esguias mãos. compridos braços abertos a inúmeros apertados abraços mas apoiados num tronco forte com raízes no chão.

- é minha esta terra e aqui fiquei.

espalha essa voz o vento que assobia entre os ramos do chorão.

à beira de água, na direcção do mar.

sexta-feira, agosto 12, 2005



Vou inventar uma flor
para pôr
no teu cabelo.
Uma flor com asas de lume
donde, em vez de perfume,
saiam sons de violoncelo.

E eu possa dizer à Terra:
“Sim. Bendito seja o teu ventre entre as mulheres.
Mas basta de malmequeres!”

José Gomes Ferreira

quinta-feira, agosto 11, 2005

última prece


cool_trees - DIGITAL PORTFOLIO


viveram lado a lado como irmãs

árvores altivas, paralelas

nenhuma vez

nem na adversidade

se uniram ou vergaram.

até ao fim dos fins.

aí, para não cair

juntaram os topos

dos troncos descarnados

não para se unirem elas

mas para a prece final

que lhes permitisse e só

morrer de pé.


quarta-feira, agosto 10, 2005

mãos erguidas

trees-kylu pomesky


Talvez na noite inquieta o teu passo sereno,
a tua voz chegada do princípio de tudo,
as tuas mãos erguidas num aceno,
os teus lábios de quem vai beijar o mundo.

Talvez na manhã clara o teu corpo de fogo,
os teus cabelos leque de todas as cores,
os teus dedos correndo as ruas do meu corpo,
o teu odor a mar por onde quer que fores.

Talvez somente a luz do teu olhar,
o sol que deixas sempre em teu lugar.


Torquato da Luz

(Poema trazido aqui pelo Lumife a quem muito agradeço.)

terça-feira, agosto 09, 2005

Paredes



os olhos marejados. de chorar? não, da poeira envolvente que lhe afecta a vista já.
vagueia pelo campo. sonda o céu na busca de uma nuvem, que o vento acaba por arrastar para longe.

- minha terra assombrada!

vê o penar do solo gretado, aberto em dor clamando por água.

olha em volta e o negro das árvores retorcidas no brazeiro da véspera, dói demais.

corre para o mar. pára no molhe ouvindo o bater de ondas que a enchem de salpicos salgados.

- um dia hás-de avançar, galgar o espaço terra dentro, e tu mar terra rios serão um só. tenho a certeza.

pudessa ela apenas não pensar e ficar a olhar, ouvindo ao longe o som de uma guitarra.

- até da guitarra o tocador partiu.
tantos amigos foram e eu, para que fiquei?

a terra morre, parte dia a dia. devagar. olhando o mar como ela hoje, no molhe.

sábado, julho 30, 2005

ontem mudei a foto abaixo nem percebi porquê. sei hoje:


Photograph by Briga

escrevi "eu volto aqui" e não disse para quê.

ao regressar entendi porque mudara a foto.

esperei e mesmo sem ter feito nada, colhi: obrigada, Menina Marota.

Menina_marota

said...


Perto do céu

os ramos secos

ganharam vida

na seiva do meu

coração...

pedra a pedra

construí ilusões

morreram amores

mas eu fiquei

mesmo assim

sonhadora

sensível

imprevisível

na roda da vida

entre o céu e a montanha

de água pura

onde brota o meu

olhar...

Para ti, com um abraço e um sorriso ;)
1/8/05 10:59 AM

Valeu ou não valeu a pena esperar?!

:)




quarta-feira, julho 27, 2005

a espera


no quarto-salão estirava-se o tempo de espera infinita. não tinha certezas só a ansiedade a acompanhava nas horas nos dias nas noites vazias.

a espera: uma amiga. como se conhecem!

- de ontem, hoje não. espere quem quiser!

pareceu uma vida cada um minuto. cada uma hora foi eternidade. esperava o quê?

- quem?

esperava o amor. o que todos esperam.

não teve? sim, muito. mal alinhavado mal distribuído nos anos de espera.

tanto amor constante lhe oprimia a alma! queria tanto dá-lo quando apetecesse, no impulso livre de quem ama bem, mas...

a espera. sempre ela. impondo-se a meio. interronpendo cada gesto largo de espontaneidade.

uma qualquer noite sentou-se à mesa sózinha. acendeu as velas. abriu um bom vinho, encetou caviar e comeu as ostras sorvendo a preceito, com gula infantil.

tomou o seu chá de menta, por fim.

nunca mais esperou.

aprendeu a ser a própria companhia que tanto esperara. e gostou de si para se acompanhar.

nunca mais sentiu a casa vazia ou a mesa grande.

recheou de flores o quarto-salão para poder vê-las fosse de qual ângulo as estivesse a olhar.

livre de vazios. longe da ansiedade, soube enfim amar.

porto?



tempo desperdiçado? não. não muito. talvez numa certa juventude inconsequente e só talvez.

olha-se ao espelho. não tem quase rugas nem isso importaria. duas mais fundas na testa as de pensar e nos cantos dos lábios de sorrir.
- nada mau para quem não se estica nem pôe cremes...

o espelho que lhe era vício na infância ( ou companheiro a reflectir amigos invisíveis) esteve abandonado demasiado tempo.

- nem a mim queria olhar ou sobretudo a mim?

nem uma ou outra coisa. ao ver-se veria no olhar o baço de reflexo de sol em águas turvas. luz que só refracta, não penetra a profundidade a que é suposto levar vida. não tinha vida a dar.

- e tenho agora?

detém-se no pescoço. sorri.

- este já me trai. trai toda a gente.

escova os cabelos.

- tanto tempo! "tanto mar!"

navegou vida fora. velas soltas. quando o vento não vinha, era motor. do cansaço fez força. da dor tirou sorrisos. e agora?

- agora, visto-me e vou sair.