segunda-feira, agosto 22, 2005

raiz nas pedras

Bryen Remer

terça-feira, agosto 16, 2005

Bill Brandt

esperando sem esperar ficou ali
fumando o cigarro do tempo dessa espera
o vento o sal do mar arredondaram o corpo
que era aresta até então

adoçou os contornos e esperou
esperou o nada sem perder de vista
que algo pode surgir da imensidão
que é o vento que se alastra e cerca e ruge

"no ar. no ar. no ar. morrer no ar!"

mas ficou uma pedra, em sua esteira.
mais uma rocha firme a deslumbrar
quem por ela passe e até sentar-se queira.

"ah que mãos de moldar tens vento do sul!"

à sua volta árvores e o de sempre, azul.

hera sobre mulher-pedra

concha


introduction_wave

segunda-feira, agosto 15, 2005

choro e bruma


sobre o seu pó, à beira de água, regada ainda por algum choro e bruma muita bruma, poisou uma semente e ali ficou.

- deitem o pó ao vento quando chegar a hora.

os amigos fizeram-lhe a vontade. e a semente gostou, acomodou-se na terra macia como espuma, colchão de vida que ela num outro já, sorriso, preparou.

e de pequena planta rebento indefinido, em árvore, crescendo, se tornou.

- nada se perde, nada!

e a quem passar é permitido, se for gente de olhar com atenção, num dia de magia e bruma todo feito, vê-la falar com as esguias mãos. compridos braços abertos a inúmeros apertados abraços mas apoiados num tronco forte com raízes no chão.

- é minha esta terra e aqui fiquei.

espalha essa voz o vento que assobia entre os ramos do chorão.

à beira de água, na direcção do mar.

sexta-feira, agosto 12, 2005



Vou inventar uma flor
para pôr
no teu cabelo.
Uma flor com asas de lume
donde, em vez de perfume,
saiam sons de violoncelo.

E eu possa dizer à Terra:
“Sim. Bendito seja o teu ventre entre as mulheres.
Mas basta de malmequeres!”

José Gomes Ferreira

quinta-feira, agosto 11, 2005

última prece


cool_trees - DIGITAL PORTFOLIO


viveram lado a lado como irmãs

árvores altivas, paralelas

nenhuma vez

nem na adversidade

se uniram ou vergaram.

até ao fim dos fins.

aí, para não cair

juntaram os topos

dos troncos descarnados

não para se unirem elas

mas para a prece final

que lhes permitisse e só

morrer de pé.


quarta-feira, agosto 10, 2005

mãos erguidas

trees-kylu pomesky


Talvez na noite inquieta o teu passo sereno,
a tua voz chegada do princípio de tudo,
as tuas mãos erguidas num aceno,
os teus lábios de quem vai beijar o mundo.

Talvez na manhã clara o teu corpo de fogo,
os teus cabelos leque de todas as cores,
os teus dedos correndo as ruas do meu corpo,
o teu odor a mar por onde quer que fores.

Talvez somente a luz do teu olhar,
o sol que deixas sempre em teu lugar.


Torquato da Luz

(Poema trazido aqui pelo Lumife a quem muito agradeço.)

terça-feira, agosto 09, 2005

Paredes



os olhos marejados. de chorar? não, da poeira envolvente que lhe afecta a vista já.
vagueia pelo campo. sonda o céu na busca de uma nuvem, que o vento acaba por arrastar para longe.

- minha terra assombrada!

vê o penar do solo gretado, aberto em dor clamando por água.

olha em volta e o negro das árvores retorcidas no brazeiro da véspera, dói demais.

corre para o mar. pára no molhe ouvindo o bater de ondas que a enchem de salpicos salgados.

- um dia hás-de avançar, galgar o espaço terra dentro, e tu mar terra rios serão um só. tenho a certeza.

pudessa ela apenas não pensar e ficar a olhar, ouvindo ao longe o som de uma guitarra.

- até da guitarra o tocador partiu.
tantos amigos foram e eu, para que fiquei?

a terra morre, parte dia a dia. devagar. olhando o mar como ela hoje, no molhe.